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Entrei atrás dele, através de uma porta verde muito descascada. A sala era agradável, o cheiro excelente. Existiam cinco mesas espalhadas aleatoriamente, cobertas por toalhas de plástico, todas vazias. Sentámo-nos numa encostada a uma janela para a rua. Estava aberta e tinha umas grades a proteger-nos do mundo exterior.
"Sr. Pereira, almoço para dois", disse o Bernard sem gritar.
O Sr. Pereira apareceu vindo de uma porta feita de tiras de plástico penduradas. Olhou-nos de forma desconfiada. A minha primeira impressão foi de que estava muito chateado com alguma coisa, talvez que o Bernard tivesse feito. Aproximou-se a resmungar e juntamente com os pratos largou a seguinte frase.
"Eu já sabia que eram dois."
Virou costas e regressou à cozinha, mas mesmo antes de desaparecer, olhou para trás e de olhar torto e franzido abanou a cabeça em discordância. Bernard assistia àquela exteriorização negativa com tranquilidade, parecia que não era nada com ele. Comecei a pensar que talvez fosse eu o problema.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já alguma vez sentiram isso nas vossas vidas: "sou eu o problema"? Eu já e é uma sensação estranha.