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O comboio chegou a Santa Apolónia de noite. Quando aquela voz metálica anunciou que estávamos perto do destino, imaginei que estariam à minha espera. Aquele homem misterioso, que mudava de aspecto quando queria, estaria certamente ali quando eu descesse do comboio. Esperava sair e ser agarrado pelo Mestre Bernard, "Tenho estado à tua espera, Pedro Monte!".
O comboio parou e eu, que não tinha mala nenhuma para transportar, fui o primeiro a sair. Fui recebido por um vento quente de fim de verão, um vento sujo com um cheiro a fuligem, muito diferente do que eu estava habituado. Parei no meio da plataforma a olhar em volta, via pessoas a correr, pessoas a abraçar-se, pessoas a falar, mas ninguém me via. Tinha chegado ao meu destino e sentia-me muito pequenino.

2 comentários:

Anónimo disse...

"É curiosa esta sensação de vazio que nos atormenta quando chegamos de noite a uma terra desconhecida"
Miguel Torga, Monfortinho, 13 de Setembro de 1941 Alguém nunca teve esta sensação???

Pandas disse...

Uma vez cheguei sózinho, de noite, debaixo de uma chuva torrencial, a uma terra desconhecida, no meio de uma ilha.

Não sei se senti um vazio, pois era o que eu procurava, aquela sensação de ínfimo, sem nenhum laço.

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