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Eu desconhecia totalmente Lisboa. Cheguei sem saber como. Os vários meses de preparação para fugir da vida isolada a que o Regedor me forçava sublimaram-se num único momento de puro medo e eu corri. Corri até chegar ao comboio. E depois rezei, pela primeira vez na vida, para que o comboio também corresse. A morte do Lobo manchava-me as mãos e eu nem sequer compreendia o que acontecera. Só sabia que eu tinha sido o culpado.

O comboio não correu. Foram várias horas de viagem, com uma transição no Porto. Milhões de batidelas de um coração a galope, que teimava em não descansar. O tempo e o revisor obrigaram-me a sentar e a parar. Tentei pensar no futuro, mas o meu pensamento estava muito limitado. Pensava na explosão de energia que eu tinha criado ao ser ameaçado pelo Bruno o Bruto. Pensava no corpo inanimado do Lobo. Pensava nas últimas palavras do Mestre Bernard "Nós saberemos quando chegares a Lisboa"
E lá ia eu a caminho do desconhecido, depois de ter descoberto que o que deixava, na verdade também era desconhecido.

3 comentários:

je disse...

Estou curioso, ficarei atento :)

ttt disse...

Não só a morte do lobo te manchava as mãos. Estavas imundo com o pó de uma viagem alucinante atrás de vendedoras de algodão com cheiros e vocabulários exóticos.

Carla Barros disse...

eu mudava a frase:

"E lá ia eu a caminho do desconheciqdo, depois de ter descoberto que o que deixava, na verdade também EU era UM desconhecido."