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O relógio gigante incrustado no topo do pavilhão dos comboios marcava a noite que ia escura. Afastei-me da plataforma do comboio agarrado aos bolsos das minhas calças. Saí para a rua e vi luzes. Muitas luzes, mais que as que existiam na minha aldeia em dia de festa. Os carros passavam rápido e as pessoas lembravam-me formigas. Senti-me desorientado. Não sabia onde estava, não sabia o que fazer. Regressei para dentro e sentei-me num banco de pedra. Assim fiquei muito tempo na esperança de que o homem que me aliciara a vir para ali aparecesse. Ele tinha-me prometido tudo o que eu mais desejava. Saber quem eu era e quem tinha sido a minha mãe. Naquela noite longa que passei enroscado em mim, deitado na pedra dura, agarrei-me o mais que pude a essa promessa. Quando a manhã chegou, ainda sonolento escutei uma voz familiar. A minha viagem não tinha sido em vão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito muito bom..... continua não pares....e obrigado a vossês os dois por tudo....