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Retive as lágrimas o melhor que pude, aquela não era a altura de ser fraco. Aquele olhar que me tinha impressionado tanto, pendia mais uma vez sobre mim. O lóbulo da orelha esquerda continuava em falta. Aquele homem era capaz de muita coisa, mas não se regenerava.
"Bernard! Aqui estou como combinámos", disse-lhe elevando-me até onde os meus quatorze anos permitiam.
Aproximou-se e pousou a sua mão direita no meu ombro.
"Mentes sem saber. O teu corpo está aqui, é verdade, mas tu estás muito longe. Trataremos disso, não te preocupes!"
Sentia-me muito perdido. Quando estava na minha aldeia, fazia todo o sentido fugir da vida a que o Regedor me obrigava, descobrir quem tinha sido a minha mãe, descobrir porque é que eu era diferente. Agora não me fazia sentido nenhum, estar ali com aquele estranho sinistro, com quem me sentia tão pouco à vontade. Estava cheio de vontade de ter ali o Rui para partilhar o que me ia na mente.
"De hoje em diante passarás a chamar-me Mestre Bernard. Vem e segue-me, Pedro Montt"

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